29 de abr. de 2013

Sem sereias e sem Ulisses

Há um livro que li pela primeira vez aos 12 anos e não conhecia de primeira pessoa o amor. Nesse momento ele me fez querer uma pessoa que me quisesse para além e apesar de tudo.
O li pela segunda vez aos 15 anos, quando jamais havia sido correspondida no amor. Nesse momento ele me fez querer uma pessoa que quisesse o que havia de bom e de mau em mim e que, acima de tudo, me compreendesse e esperasse.
A terceira vez veio em dezembro último, aos 20. Quando o amor veio certo apenas uma vez, tão certo e intenso quanto fugaz. O li porque amava um moço que queria que me amasse de volta. E achei que, se eu o esperasse como Ulisses espera Lóri, ele fosse me querer como ela o quis. A vida não é um livro.
Hoje, relendo minha passagem favorita do livro veio um nó no peito, uma vontade de chorar, porque acrescentar simples "eu te amo" ainda não veio. E sigo frustrada.
Frustrada porque transbordo em afeto sem conseguir que aqueles a quem quero ofertá-lo aceitem minha oferenda. Frustrada e ferida.
Como Lóri. Sem Ulisses.

"E acrescentou simples:
-Eu te amo.
Ela olhou-o com os olhos obscurecidos mas seus lábios estremeceram. Ficaram em silêncio por um momento.
-Teus olhos, disse ele mudando inteiramente de tom, são confusos mas tua boca tem a paixão que existe em você e de que você tem medo. Teu rosto, Lóri, tem um mistério de esfinge: decifra-me ou te devoro.
Ela se surpreendeu de que também ele tivesse notado o que ela via de si mesma no espelho.
-Meu mistério é simples: eu não sei como estar viva.
-É que você só sabe, ou só sabia, estar viva através da dor.
-É.
-E que não sabe como estar viva através do prazer?
-Quase que já. Era isso o que eu queria te dizer."

Um comentário:

  1. Um dia acontece, Maria, e não acontece. Por vezes acontece e é impossível na prática - a pessoa já está comprometida, ou você já está comprometida e não quer descomprometer, por uma série de motivos. Às vezes acontece tarde na vida com uma pessoa que foi colega de infância e agora mora e tem família do outro lado do mundo. Às vezes acontece tudo certinho. Às vezes é inviável mas deixa você com um semiconforto: você experimentou o amor - às vezes durante 24 horas apenas - e sabe o que é o amor, e tanta gente não sabe, infelizmente, porque com elas nunca aconteceu, e você o viveu em toda a plenitude, ainda que por breves horas. A sede de dar amor, infelizmente, raramente é saciada de modo pleno. Viver é mesmo muito triste, às vezes. Mas sempre, sempre pode mudar. E pode mudar de maneiras lindas, você está numa fila de supermercado e de repente alguém sai lá do outro lado e vem, atraído por você. Como eu desejo que mude para você.





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