4 de out. de 2011

Menos homem?


Desde a primeira vez em que vi esse cartaz, tive a certeza de que não gostava nem um pouco do que estava por trás dele, sendo dito de fato.
Vamos lá, enumerando o que eu vejo quando olho para essa imagem: um “homossexual” estereotipado (com brincos nas duas orelhas e traços delicados, que lhe renderiam o apelido de “florzinha” entre trogloditas), um slogan em rosa (cor de “mulherzinha”) dizendo que “Homofobia é coisa de viado” e, em baixo, em branco, a cereja do bolo: “Bater em gays não te faz mais hétero, só te faz menos homem!”. Sério mesmo que só eu achei que tinha algo de MUITO errado nesse cartaz?
“Mas o que tem de errado? Ele está falando em linguagem de homofóbico para dissuadi-lo”. Ah, desculpa, mas eu não vejo assim não. Eu vejo um cartaz feito por alguém que, provavelmente, não tinha consciência da própria homofobia, que usa a homossexualidade como um adjetivo pejorativo, como algo para desmerecer os homofóbicos e ainda dando a entender que quem bate em homossexuais é “menos homem”. O que é ser homem? Porque, da forma como está posta, me parece que ser homossexual não se enquadra na categoria “homem” (homofobia é coisa de viado E te faz menos homem, logo, ser viado é diametralmente oposto a ser homem), me parece que este cartaz não quer combater a homofobia, quer apenas combater a homofobia violenta. Quer apenas que os “homens de bem” parem de dar “mau exemplo”, de sujar as mãos com “frutinhas”. E aí? E aí que as mulheres homofóbicas não se sentem atingidas por esse cartaz, e aí que os homens “homofóbicos condescendentes” (“ah, ele é ‘viado’, coitado, não pôde escolher ser assim”) não se sentem atingidos por esse cartaz, e aí que os homofóbicos violentos sequer pensam sua postura homofóbica! Eles pensam apenas sobre a violência! E ainda categorizam violência como algo inerente às vítimas da violência!
Esse cartaz me lembra uma cena de “Capitães da Areia” em que o Pedro Bala fala com um recém-chegado que sodomia é algo que inferioriza o homem, o torna pior do que uma mulher. Pior do que uma mulher. Porque, de fato, eu não consigo ver nenhum homofóbico dissociado do nojo por mulheres (um antigo professor meu, Michel Misse, fez um livro sobre isso “O estigma do passivo sexual”, que eu ainda estou para ler, e que sempre me vem à cabeça quando eu penso de forma associativa entre misóginos e homofóbicos), do nojo por qualquer coisa que te faça “menos homem”.
Eu não acho que quem bate nos outros é menos homem, essa é uma das formas de você ser homem (e mulher, e travesti...). Só acho que, definitivamente, é um tipo de homem que pode nem falar comigo quando me vir na rua.