18 de jan. de 2013

O mito (não) esclarecido


Faz mais de 600 anos que Aurora dorme. O mato cresceu, seu mundo mudou, morreram todas as fadas e, sem explicação, permanece na Europa, intocada, uma jovem adormecida. Se havia um príncipe com o poder de quebrar a maldição, morreu no caminho.
Hoje, Aurora encontra-se despida de suas roupas e joias, removida de seu castelo e cama com dossel. Hoje Aurora é um experimento científico. Um algo que não vive e não morre, não desabrocha e nem apodrece, que precisa ser espetado, controlado, explicado. Mas a Ciência não penetra o mito e, mesmo que lhe raspem os cachos dourados para investigar seu cérebro, eles invariavelmente tornam a crescer. Aurora sonha, foi provado por uma máquina. Mas com o quê? Com quem?
Por centenas de anos, seu leito foi ponto turístico e pessoas de todo o mundo pagavam para vê-la dormir. Homens de todos os países colaram os lábios nos seus em um misto de adoração e sacrilégio. Mas Aurora dorme e não há lógica nem ciência que o explique. Ela é mais real do que postulados e teses.
Não há nada de especial em seu corpo e partes que lhe são desmembradas (como seu sangue, periodicamente coletado para exames) perecem como tudo. No entanto, o mito permanece intocado e Aurora dorme.
Sua enfermeira a ama e, com carinho, penteia seus cabelos e se pergunta quão bonito seria seu sorriso.

13/1/13

Nenhum comentário:

Postar um comentário