20 de mar. de 2012

Bárbara

Bárbara era alta demais, larga demais e peluda demais para ser considerada bonita. Bárbara não era especial, nem criativa, nem boa em matemática. Era filha única de pais que trabalhavam o dia inteiro e cresceu em silêncio ouvindo os diálogos da T.V. que, como todos os diálogos ao seu redor, não lhe perguntavam nada. O cabelo de Bárbara era crespo demais, cheio demais e começou a ser alisado assim que seus seios começaram a surgir. Ninguém perguntou se ela gostava de seu cabelo, de seus pelos, de sua altura, de seu peso.
Bárbara comia cheetos e via desenhos, angustiada demais para encarar o dever de matemática, história ou português. Angústia era uma palavra difícil que ela não conhecia e que a acompanhou a vida toda, incompreendida como Bárbara.
A escola chutava ela ano após ano, exibindo-a nas estatísticas de aprovação e frequência. Bárbara copiava a matéria furiosamente para não ter que entender o que dizia a professora ou ouvir os colegas que lhe machucavam. Ela não odiava ninguém, só chegava em casa e corria à televisão para aplacar o silêncio.
Às vezes ia à praia quando os pais a levavam e ficava sentada na areia querendo voltar para os salgadinhos e a T.V.
Foi na praia que sentiu. Podia ver que, longe, no horizonte, encontraria os desejos, as perguntas e o aconchego que jamais tinham chegado a ela. Lembrando as aulas de natação que tinha frequentado há mais de dez anos, entrou na água sem perguntar a ninguém e nadou até sumir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário